Teoria do “Desenrascanso”
Decidi começar por partilhar a minha teoria sobre o problema mais abrangente da sociedade portuguesa. Porque é que estamos/somos da maneira que estamos/somos. Isto é, porque é que Portugal chegou a este ponto e porque é que é tão difícil modificar o que está mal neste canto à beira mar plantado.
Partilho assim com quem quiser ler as próximas linhas, a Teoria do “Desenrascanso”.
Não sei explicar como tudo começou. Talvez a primeira família “homosapiêncial” que para cá veio morar (o Sr. Manuel Adão e a Dona Maria Eva) fosse constituída por pessoas que tinham uma grande capacidade de se desenrascar das situações mais difíceis.Talvez esta capacidade se tenha transmitido ao longo das muitas gerações de habitantes desta terra, até aos nossos dias.Durante muitos séculos, esta capacidade levou Portugal a ser uma das maiores potências mundiais. Vivia-se a época dos descobrimentos e o “desenrascanso” levou Portugal a “mares nunca dantes navegados”. É estranha esta imagem nos dias que correm mas, Portugal já foi uma das maiores nações do Mundo.Hoje em dia, no entanto, a realidade é bem diferente. Pensemos então em porquê que tudo isso mudou.Olhando para um passado mais recente de Portugal, importa relembrar que durante muitos anos, Portugal “viveu” debaixo de uma ditadura, com tudo o que isso traz de negativo. Foram tempos difíceis que para a minha geração podem ser apenas imaginados, sem que se consiga ter uma ideia minimamente próxima da realidade vivida nessa altura. Pessoas passavam fome, racionalizava-se géneros alimentares, etc.Foi debaixo dessas condições que mais uma vez o “desenrascanso” surgiu, como forma de tentar sobreviver da melhor forma possível em tempos tão conturbados.Não creio que se possa criticar quem nesse tempo se desenrascou. O problema é que o tal de “desenrascanso” veio para ficar. A ditadura acabou, mas o português tinha aberto a caixa de Pandóra e não estava disposto a abdicar dessa grande descoberta. E assim, continuou a recorrer ao “desenrascanso”, já não por uma questão de sobrevivência, mas porque queria sempre ter mais. Porque queria ser sempre mais esperto que o vizinho ou o próprio Estado, porque queria ser sempre cada vez mais rico à custa da exploração dos trabalhadores (até pareço comunista, valha-me Deus), ou então fugindo aos impostos, porque queria sempre tentar fugir às mais elementares regras de civismo, ou fosse lá pelo que fosse.E assim, o "desenrascanso" chegou aos nossos dias.
Proponho que façam o seguinte exercício para testarem a minha teoria.Pensem em qualquer um dos muitos problemas de Portugal. De seguida procurem descobrir se há alguém que se está a desenrascar, à custa da existência desse problema.
Acreditem, há sempre alguém.
Esta mentalidade está enraizada em todas as camadas da sociedade portuguesa e, por conseguinte, está também presente nos chamados centros de decisão. Daí ser tão complicado mudar o estado das coisas.Quem está bem, está porque não se importa de passar por cima de seja quem for ou do que for.Se começamos a falar em mudar o que está mal, então estamos a abrir a possibilidade de alterar as regras do jogo e essas pessoas passam a perder o que tanto lhes custou a conseguir (coitadinhos).Logo, e se essas pessoas estão em posições através das quais podem impedir essa alteração, acreditem que vão fazer tudo o que estiver ao seu alcance para evitar tal mudança.
Mudar esta relidade é assim um processo duro, moroso e difícil. Será possível?
O grande problema de Portugal, é a mentalidade. Enquanto essa mentalidade não mudar, dificilmente isto se recompõe.
5 Comentários:
Realmente durante o texto, até pensei que estaria a ler algo de um Comunista... mas não... eras tu.
Queria dizer aqui que concordo em grande parte com o que dizes (o que é bastante estranho) mas tenho a dizer... e espero que não leves a mal... mas consigo identificar aqui alguns aspectos que são práticas tuas. Não ao nível da prática, mas pelo menos na teoria, na questão dos impostos e na do civismo. :p
Mentir é feio caro João, muito feio.
Desta vez tu concordas comigo!!
Estás doente pá?
Eu concordo com o Nuno do texto principal e com o João Pedro do comentário. :)
e' muito bom poder ler-te por aqui! voltarei!
O "desenrascanço" que referes situa-se algures entre as "más práticas morais" e a corrupção pura e simples, e todas estas práticas são próprias de países subdesenvolvidos compostos por pessoas com má formação...
Enough said... bom retrato!
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