Homosapiêncial

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2008/02/07

Campos de abortos


O Homosapiêncial está em condições de divulgar os verdadeiros motivos que levaram Sócrates a demitir, ou aceitar a demissão de Correia de Campos.

O nosso ex-Ministro da Saúde foi dado como mentalmente insano, após ter afirmado que o aborto clandestino em Portugal estava a diminuir.

Ora bem, se o aborto era clandestino antes da legalização, não se conheciam números dessa realidade. Se hoje em dia continua a haver clandestinidade na práctica de abortos, como se conhecem os números actuais?

Se é clandestino, não pode ser quantificado, penso eu de que.

Gostava de falar com este senhor, para lhe perguntar qual é o número actual de abortos clandestinos e qual era o número antes da legalização. Certamente que seria uma conversa muito interessante.

Acontece que Correia de Campos afirmou que ouvia uma voz que lhe dizia repetidamente que o aborto clandestino estava a diminuir. Esse foi o principal motivo para a reforma antecipada do nosso querido ex-Ministro da Saúde.

Mas houve outro motivo.

Na mesma altura, Correia de campos afirmou que: "Não há a pretensão do Ministério para de repente acabar com as situações clandestinas".

Era impossivel a Sócrates manter um Ministro que declara não pretender acabar com o aborto clandestino, ou a fazê-lo vai ser devagar, devagarinho, quase parado, sem fazer nada.

Se Sócrates mantivesse este Ministro, estaria a dar a entender que afinal para o Governo, o aborto clandestino já não é um terrível problema da sociedade portuguesa.

Se Sócrates mantivesse este Ministro, estaria a dar a entender que afinal para o Governo, a Saúde das mulheres e a defesa dos seus direitos, não é de maneira alguma urgente.

Mas penso também que Sócrates se precipitou porque agora já está tudo bem. Pelo menos para aqueles que tão fervorosamente defenderam o Sim no referendo. Agora que já se deu mais um passo na tão querida revolução de mentalidades hasteada pela esquerda, as mulheres e os seus problemas deixaram de ter importância alguma.

Como é possivel que quem defendeu tão ferozmente o Sim, esteja agora mudo e quedo sem perder um segundo de sono na defesa das mulheres e dos seus direitos?

ACORDEMMMMMM!!!!!

O aborto clandestino ainda existe.

O aborto clandestino ainda continua a colocar em risco a vida de tantas e tantas mulheres.

A actual lei, nada mudou.

O que é que ganharam com tudo isto?

Nada?

Ou será que também estão em condições de afirmar que o aborto clandestino está a diminuir?

Tanto esforço e dedicação mostrado, por uma causa e agora nada fazem? Nada vos choca? Está tudo bem?

Por tudo isto, aqui fica um sarcástico VIVA ao Sim no referendo. Ainda bem que o Sim venceu.

4 Comentários:

Blogger D. disse...

se se passaram a fazer abortos seguros em hospitais, é óbvio que o clandestino desceu. não se pode afirmar quanto ou se muito ou pouco.
mas repara, ao menos agora dá-se a oportunidade de as mulheres terem acompanhamento médico e psicológico para o fazerem, enquanto que antes eram forçadas a fazê-lo sabe-se lá onde. agora, se nem todas têm coragem ou querem ir aos hospitais públicos, que culpa têm os que votaram sim? não se pode impor a alguém que zele pela sua própria segurança, deve-se sim fornece-lhe a oportunidade de o fazer em segurança.

7/2/08 20:27  
Blogger McBrain disse...

Espanta-me antes de mais o número de conclusões a que chegaste com o que escreves aqui.

Porém, o mais importante é mesmo a falácia de dizeres que se ignora se o aborto clandestino desceu ou não.

É fácil de deduzir que parte dos abortos que eram clandestinos passaram a ser legais (cerca de seis mil este ano que passou).

Ora, para que o número de abortos clandestinos aumentar... teria que ter subido mais de seis mil em 2007. A questão que se põe é: qual a probabilidade (empiricamente falando) de ter havido seis mil mulheres que decidiram recorrer ao aborto clandestino quando o poderiam fazer em condições decentes.

Por fim... porque é que fazes disto uma questão de dextros e canhotos?

9/2/08 01:23  
Blogger Nuno Sal disse...

McBrain, a mim espanta-me antes de mais a quantidade de perguntas feitas que ficam por responder.

Depois faz-me rir chamares a um facto, uma falácia.

Claro que se pode DEDUZIR que o aborto clandestino terá diminuído, olhando para os números de abortos realizados legalmente.

Mas do teu comentário, depreendo que te passou ao lado o motivo deste texto.

Acontece meu caro, que Correia de Campos não afirmou que se deduzia que o aborto clandestino tinha baixado. Ele afirmou que isso tinha acontecido.

O meu texto procura frisar a impossibilidade de se fazer tal afirmação, visto não haver em relação ao aborto clandestino qualquer número, ou dado, ou informação que possa sustentar tal afirmação.

E se o aborto clandestino fosse ciclico?

E se houvessem outros elementos que podem fazer aumentar ou diminuir o aborto clandestino, de um ano para o outro?

Não estou com isto a dizer que assim seja, mas como não há DADOS CONCRETOS, podem-se formular as mais diversas conclusões.

Talvez a tua opinião seja diferente, mas pessoalmente não gosto de ver governantes a fazer afirmações categóricas sobre
aquilo que não sabem, ou não conhecem na totalidade.

Mas uma vez que este texto te causou tanto espanto, devo dizer-te que também me espanta a mim só te referires à suposta falácia e nada dizeres em relação à outra afirmação de Correia de Campos que eu critico. Para relebrar aqui fica a dita afirmação:

"Não há a pretensão do Ministério para de repente acabar com as situações clandestinas".

E isto é que me faz escrever o restante texto.

Porque esta não é apenas a postura de um ex-governante. É a postura de quem defendeu o Sim.

Se olhares para trás e vires toda a argumentação feita, não te choca que essas pessoas agora estejam caladas?

Pessoas que tão afincadamente defenderam o Sim, que tão afincadamente queriam acabar com o drama do aborto clandestino, que quase choravam baba e ranho por causa das pobres mulheres e que agora se contentam com um ir combatendo devagarinho este problema.

Acontece que eu sempre defendi que a solução não passava por aí. Eu e muitos outros. Se calhar se tivessem aproveitado muitas das ideias que surgiram, o aborto clandestino estaria a ser combatido de forma muito mais eficiente.

Mas agora nada disso importa.

O aborto está legalizado e o resto que se lixe. Desculpa mas é esta a ideia que fica.

Por fim... não sou eu que faço desta uma questão de dextros e canhotos. Sei claramente que há pessoas de esquerda que votaram Não e pessoas de direita que votaram Sim.

A minha única referencia à revolução de mentalidades que vem a ser levada a cabo pela esquerda mais radical, não é uma invenção minha. Ou achas que é?

É que se esses partidos estivessem verdadeiramente preocupados com as mulheres e a sua saúde, não ficariam calados ao ouvir um Ministro dizer que "Não há a pretensão do Ministério para de repente acabar com as situações clandestinas".

Se estivessem verdadeiramente preocupados, não se calariam... mas calam-se.

Daniela, concordo contigo. Agora dá-se a oportunidade, antes essa oportunidade não existia.

Acontece que eu acredito que essa deveria ser a última solução para as mulheres nessa situação e não a única solução existente.

Acredito também que se assim fosse, aquelas mulheres que não têm coragem ou não querem ir aos hospitais públicos, teriam outras opções ao seu dispor.

Acredito por fim que se assim fosse, para além de se resolver esse problema, estariamos a defender o direito à Vida, o maior e mais importante dos Direitos Humanos.

10/2/08 23:21  
Blogger By myself disse...

A questão é e sempre será delicada e os argumentos defendidos por ambas as opções, discutívies.
No entanto (e fugindo um pouco ao tema do post, que questiona a afirmação infundada do tal Sr. Correia), penso que o aborto clandestino terá descido (por razões óbvias), mas não acredito que tenha sido uma redução substancial.
Desde as adolescentes que tudo sabem sobre sexualidade e que conhecem os métodos anti-concepcionais, mas que vão continuar a dar um salto rápido a uma qualquer clínica, porque a assistência num hospital é mais lenta e dava "bronca" lá am casa; passando pelas senhoras que dão a "queca" rápida com o chefe e optam pela mesma saída, porque o marido ía "topar tudo", até às senhoras de classe alta que não se imaginam nos corredores do hospital público, todas vão confirmar a hipocrisia do SIM.
Para justificar a nossa perda de tempo com o referendo, ficam as que fazem do aborto método anti-concepcional regular (e conheço algumas, infelizmente).

14/3/08 01:44  

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