Homosapiêncial

Nós somos o que pensamos. Muito mais do que imaginamos. Muito mais do que supomos. Mais ainda do que sentimos...

2006/02/06

Choque de liberdades

As caricaturas do profeta Maomé, recentemente publicadas, vieram incendiar ainda mais uma situação, já de si, extremamente complicada. A actual situação politica na Palestina e o extremar de posições em relação à pretensão iraniana de enriquecer urânio, mereciam outro tipo de tratamento por parte do ocidente.

Importa-me discutir neste espaço a legitimidade, ou não, da proclamada liberdade de imprensa dinamarquesa e por arrasto ocidental, que é a génese de toda esta situação.

Poderá a liberdade de imprensa e expressão sobrepor-se ao respeito por uma religião?

Penso que não. Alias, já por muitas vezes discuti com acérrimos defensores da liberdade de expressão este exemplo, e não é por agora se tratar de uma religião diferente da minha que eu vou mudar de opinião. Os ocidentais defendem a liberdade de expressão, como uma parte integrante do ser ocidental. Até aqui tudo bem. Mas uma coisa é ser livre e outra é fazer o que se quer, não respeitando os outros e as suas liberdades.

A liberdade é um modo de ser e agir que acarreta responsabilidades e respeito pelos outros. Se assim não for, então não estamos a falar de liberdade mas sim de prepotência.

Chego agora à conclusão que o exercício de uma liberdade sem o respeito por outras liberdades é o oposto do conceito de liberdade. É opressão. E todos aqueles que se refugiam sobre a “capa” da liberdade de expressão para ofenderem crenças alheias, não passam de opressores. Defendem única e exclusivamente a SUA liberdade, tal como os ditadores defendem única e exclusivamente os seus interesses e a sua maneira de ver as coisas. Tornam-se assim naquilo que tanto criticam quando o vêm nos outros.

É evidente que a reacção do mundo árabe é absolutamente criticável. O sucedido não é desculpa suficiente para a violência e ameaças de morte. Mas esta reacção é tão criticável como previsível. Estamos a falar de extremismos, de homens e mulheres que estão dispostos a prender um cinto de explosivos à cintura e rebentarem consigo e com o maior número possível de “infiéis”, tudo isto em nome do seu deus. Por isso era inevitável tal reacção.

Eu também não gosto, quando símbolos da minha Fé, são vilipendiados em nome da tal liberdade de expressão. Ou libertinagem de expressão, como eu costumo dizer. A diferença é que eu não acredito que a violência seja resposta para essas ofensas. Tenho tentado fazer os tais acérrimos defensores da libertinagem de expressão, entenderem que a liberdade de um termina onde começa a liberdade de outros.

Acho até que seria interessante saber qual a opinião de certos blogonáutas sobre este assunto. Será que vão manter a sua opinião de “liberdade de expressão acima de tudo”, ou será que por não se tratar da religião católica, vão mudar de opinião? Se calhar até já mudaram, mas depois deste texto jamais o admitirão! Digo eu.

5 Comentários:

Blogger José Carlos Gomes disse...

Meu caro, como bem sabes, para mim as religiões são todas iguais, da católica à islâmica, da judaica ao protestantismo da iurd: não trazem nada de bom. Espero que com esta introdução percebas que nos ateus não há dois pesos e duas medidas.

Quanto ao que dizes e à comparação entre a liberdade de expressão absoluta e uma ditadura, incorrer num erro que tolda o teu pensamento. Numa ditadura, só há a "verdade" oficial. As outras "verdades" são silenciadas. E, por norma, a religião dominante no país dessa ditadura costuma estar ao lado do sistema e beneficiar com ele. Numa sociedade em que se pode dizer tudo, se uns têm a liberdade de adorar determinados símbolos e de crer em determinadas ideias, os outros têm o direito de não o fazer e, não o fazendo, não estão vinculados a qualquer compromisso de respeito pelos rituais alheios.

Todos devem respeitar o direito dos outros á diferença. Agora, a diferença de uns vincula-os a esses e não aos restantes. Ou seja, eu não tenho o direito de achincalhar quem crê numa religião, mas, sendo ateu e achando uma parvoíce crer num deus, tenho o direito de dizê-lo. Se quem é crente se sente achimcalhado por eu dizer isto, é porque não consegue conviver bem com a diferença e esse é o princípio de todos os fundamentalismos. Se eu me sentisse achincalhado com o facto de haver crentes, não estaria a respeitar a liberdade de cada qual, incluindo a liberdade de fazer aquilo que para mim são idiotices.

No caso dos desenhos de Maomé, o grande problema é que há uma falta de respeito de base. O jornal dinamarquês que os encomendou aos artistas e que os publicou fê-lo com o único propósito de provocar o islão - foi o director da publicação que o admitiu. Isso é grave.

6/2/06 16:09  
Blogger Nuno Sal disse...

Embora não fales por todos os ateus, admito que no teu caso só tens de facto um peso. O teu.

Claro que concordo contigo e obviamente os não crentes têm todo o direito de, simplesmente, não crer.

A diferença entre nós é que eu acho que todos nós temos um vinculo sim senhor. O do respeito pelos rituais ou ideias ou seja lá o que for de todos os outros.

Quem desrespeita as crenças dos outros, apenas por ter liberdade para o fazer, não sabe o que é verdadeiramente a liberdade. Encara-a de forma irresponsável.

Portanto, se bem entendo do que escreveste, tu não tens o direito de brincar com o que para outros é sério, mas acabas por o fazer. Porque nas nossas conversas, nunca te limitaste unicamente a dizer que é uma parvoice acreditar em Deus.

Portanto não respeitas algo que é diferente e que para outros tem um valor transcendente.

Se os crentes não gostarem dessas brincadeiras (ou achincalhanços se preferires) isso deve-se ao facto de não conseguirem conviver com a diferença. Neste caso a tua e que se pode resumir a não respeitares os outros.

OS crentes não pedem para quem não acredita ou percebe, o passe a fazer. Apenas querem que os respeitem.

Em última análise e de facto, foi exactamente isso que se passou nesta situação despoletada pelos cartunes. Nisso concordo contigo.

7/2/06 00:07  
Blogger Pedro Lino disse...

Eu acho que os estupidos tem direito a dizer estupidezes!

Eu tenho o direito a dizer que os estupidos sao estupidos e que as estupidezes que disseram sao estupidezes. E mesmo assim a liberdade de expressao!

Devia a emissao de estupidezes ser proibida por lei? acho que nao! Gostava era que nao houvesse tantos estupidos mas enfim...

O exercicio do direito de opiniao leva-me a dizer que aqueles cartoons sao provocatorios e reveladores de um mau gosto e falta de sensibilidade. O jornal tem muitas razoes para pedir desculpa. Mas a lei e os politicos n tem nada que se meter no assunto. A comunidade muculmana tem todo o direito de protestar, mas sem frazes tipo "Britain, you will pay, 7/7 on its way".

Isso ja nao e liberdade de expressao, nao e opiniao, e ameaca!

7/2/06 10:20  
Anonymous Anónimo disse...

Liberdade é diferente de libertinagem... Infelizmente muitos são os que não sabem distinguir, defendendo-se com fantasmas passados (antes do 25 de Abril) para praticarem a libertinagem! Muitos são os meios de comunicação que não sabem fazer a distinção... Mas esses percebem bem quais são as primeiras páginas que lhes dão bom dinheiro!!!!

Haja bom senso!

15/2/06 13:24  
Blogger McBrain disse...

Viva, e perdão pelo comentário tardio, mas tenho andado um pouco ausente, como sabes.

O teu discurso é muito bom, e quase que me convencia... mas não me convence! :)

Uma caricatura não é um insulto gratuito. Uma caricatura é mordaz e tem como objectivo a crítica, a sátira. Acho que aí concordamos todos, só que tu traças uma linha a partir da qual "o respeitinho é muito bonito". Eu não vejo essa linha.

A Constituiçao Portuguesa encontra-se cheia de arcaísmos, por exemplo, referentes aos símbolos nacionais. Não sei se sabes, mas há cerca de 20 anos, um programa para jovens passou o Hino Nacional em versão rock. O resultado: "Oh ignomínia, o desrespeito, etc!".
O que eu acho? BULLSHIT!!!

A minha única costela de direita é de facto achar que todos deveriamos saber cantar o Hino Nacional (por muito outdated que esteja), assim como deviam estar mais bandeiras presentes nos edifícios públicos. Mas isso não significa que se idolatre algo ao ponto de arranjar um grande sarilho porque cantei "Heróis do Mar, Nobre Povo" com umas guitarradas mais violentas.

Portanto, concordo com o Sr. José Carlos Gomes, quando este refere que neste caso o mais grave foi o facto de ter havido dolo na pubicação das caricaturas.

Mas o que me espanta (e daí talvezs não) no meio disto tudo é que caricaturas sobre os judeus são publicadas regularmente em jornais árabes! E são caricaturas tão violentas ou mais que as que foram publicadas pelo Jyllands-Posten.

4/3/06 19:48  

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