Homosapiêncial

Nós somos o que pensamos. Muito mais do que imaginamos. Muito mais do que supomos. Mais ainda do que sentimos...

2007/02/06

Sócrates o chantagista.

Numa altura em que se fala do extremar de posições do lado do Não, eis que surge o nosso Primeiro, a usar um argumento que não me atrevo considerar extremista. Está muito, mas muito para além disso.

Num acto de total politização do referendo, esperando talvez juntar a sua cara à possível vitoria do Sim, Sócrates afirma com uma desfaçatez tremenda que se o Não ganhar, não haverá lugar a nenhuma alteração de Lei proposta pelos defensores do Não. Afirma categoricamente que o P.S. não apoiará nenhuma proposta de alteração de Lei e tudo se manterá exactamente como está.

Pergunto, é esta a postura de abertura e dialogo que os defensores do Sim apregoam?

Tipo, ou fazem o que queremos ou então não há conversa com ninguém, amuamos, fazemos birra e tapamos os ouvidos.

Mas que raio de ameaça terrorista é esta?

E isto? Não é extremista?

Com esta afirmação Sócrates está a fazer chantagem com todos nós porque das duas, uma. Ou votamos Sim e a Lei é alterada no sentido que a esquerda quer, ou então se votarmos Não o nosso governo não promoverá nem aceitará nenhuma proposta de alteração feita por ninguém. A Lei ficará exactamente como está.

Tenho visto recentemente muitas pessoas a levantar muitas ideias que vão ao encontro de algumas que também eu já dei. Resolviam grande parte dos problemas e eram bem mais consensuais e produtivas que a actual soluçãozinha proposta pela esquerda.

Mas desengane-se quem pensa ainda que a prioridade destes senhores é a defesa das mulheres.

Se fosse essa a sua preocupação, então aceitariam discutir alternativas que não mandassem mulheres para a cadeia e que mantivessem a defesa dos direitos de um ser humano em formação. Se o Não ganhar, nas palavras de Sócrates, as pobres mulheres perseguidas e injustiçadas, bem que podem apodrecer na cadeia. Se alguma duvida houvesse em relação às intenções da esquerda, penso que esta afirmação chantagista de Sócrates acaba com todas.

Pois bem, não cedo a chantagens. Quem recorre a esses métodos não merece a minha confiança. Eu voto Não e espero que aquelas ideias que começam a surgir tenham pernas para andar e não sejam abortadas por uma esquerda chantagista e mal formada.

Como desde o início não concordo com este referendo e muito menos com a pergunta que é feita, tenho de votar não. Se a solução proposta é a que está na mesa… Então NÃO!!!

6 Comentários:

Blogger José Carlos Gomes disse...

Portanto, se a maioria dos cidadãos decidir no dia 11 que é contra a despenalização do aborto sugeres que os deputados ignorem a opinião dos eleitores - é que o referendo só permite saber uma coisa: ou se é pela despenalização ou contra, não há "Sim mas" nem "Não mas" - e aprovem a despenalização à revelia... Era o que faltava. Isso seria desrespeitar a opinião daqueles que se dignarem a ir votar.

Por outro lado, fazer as coisas estranhas que os defensores do Não se lembraram a uns dias do referendo é, no mínimo hipócrita. Mantendo na lei o crime mas não prendendo - falta saber se pretendem não dar qualquer pena ou se querem obrigar as mulheres a trabalhos para comunidade, como defende Bagão Félix -, mantém-se o aborto clandestino. Em que é que se protegem as mulheres e os fetos? Os fetos continuam a ser destruídos, as mulheres continuam a sofrer na pele e na alma o recurso ao aborto clandestino. Se esta tese estapafúrdia vingasse, apenas se conseguia uma coisa: que o Sim não ganhasse. Esse é o único objectivo da malta do Não. Se realmente achassem a vida intra-uterina um bem inalienável seriam consequentes e defenderiam a pena de prisão para as mulheres. Só que o embrião e o feto são apenas meios para atingir um objectivo: manter uma tutela moral sobre a sociedade, através de uma lei. Uma lei que nem se importam que não seja cumprida. Uma lei que não se importam que mate mulheres e fetos...

6/2/07 16:05  
Blogger João Pedro disse...

Vocês têm piada. Agora que vai haver referendo estão cheios de ideias. E durante ester 8 anos não tiveram nenhuma foi?

6/2/07 22:03  
Blogger Nuno Sal disse...

João, nos primeiros textos sobre esta matéria falo dos erros que defensores do Sim e do Não cometeram ao longo destes anos.

Todos são culpados e todos têm responsabilidades na actual situação e no facto de nada ter sido feito.

Mais uma vez, não posso falar por ninguém, muito menos por aqueles que estiveram no poder.

Sendo assim, durante estes 8 anos eu não tive nenhuma ideia, assim como tu não tiveste.

Apenas falo por mim.

Não me podem também acusar de só agora a poucos dias do referendo lançar ideias, porque já as lancei anteriormente. Agora fico contente por ver mais pessoas e das que têm voz na sociedade, a falar de ideias iguais. Talvez elas possam fazer alguma coisa...

José, o que sugiro é que se tente chegar a um entendimento entre as partes. E já o sugeri há muitos textos atrás.

O Não devia ganhar porque a solução apresentada pelo Sim não resolve nada. Mas se ganhar e se existe a possibilidade de se tentar melhorar a situação, apenas te pergunto se não se deve aproveitar essa oportunidade?

Ou será correcta a posição de Socrates?

É que pareces um defensor extremista do Não a falar.

Sou contra o manter a Lei e não a aplicar. Aí concordo contigo quando falas de hipócrisia.

Agora defendo sim, penas alternativas para mulheres que pratiquem abortos.

Tal como já te disse e tu mesmo admitiste, o aborto clandestino existirá sempre. Tu apenas admites que venha a tornar-se residual, mas que vai continuar a existir, isso vai.

E pasma-te, vão continuar a morrer seres humanos em formação e vão continuar a sofrer mulheres por causa do aborto, aconteça o que acontecer.

E não podes usar tais argumentos, como se fosses defensor de fetos e mulheres, porque através da Lei que queres ver aprovada, vão continuar a morrer seres humanos em formação e vão continuar a sofrer mulheres por causa do aborto.

Portanto essa não cola.

7/2/07 01:59  
Blogger Nuno Sal disse...

Estranho também (ou talvez não) a total falta de comentários de vossa parte às afirmações de Sócrates.

Logo dois atentíssimos detectores de discursos extremistas como vocês...

Ou concordam mesmo com o que ele disse, ou então não convém muito comentar.

7/2/07 02:06  
Blogger João Pedro disse...

Se respondem que não à pergunta é porque acham que está bem como está. E a pena é a de prisão visto em Portugal não existir outro tipo de penas. Por isso nunca podem mudar nada em relação a esta lei. Podem é arranjar meios de prevenção. Mas isso não depende do referendo e devia já estar em curso à muito tempo.

Já agora, Nuno, nós já sabemos que não és responsável para nada que não fazes. Mas tás a ser reles quando dizes que não podes falar pelo governo que lá estava quando eles eram os da tua cor e quem tu elegeste.

7/2/07 12:37  
Blogger José Carlos Gomes disse...

Ainda gostaria de ver o que diriam os partidários do Não se tivesse saído do Sim a seguinte proposta: Se o Não vencer, altera-se a lei de maneira a que se mantenha o aborto como um crime, mas que as mulheres nunca sejam condenadas a penas de prisão. Isto seria um embuste.

Só que vinda do Não esta proposta parecer normal. Parece mas não é. E explico porquê. Num referendo não há detentores de uma proposta e detentores da outra. Ou seja, quem se organiza em movimentos para defender o Sim ou o Não está a organizar-se para levar cidadãos a votar Sim ou Não À PERGUNTA EXPRESSA E NÃO A OUTRA QUALQUER. E a pergunta expressa não foi aprovada pelos defensores do Sim: foi aprovada pela Assembleia da República, pelo Tribunal Constitucional e foi ratificada pelo Presidente da República.

Daqui decorre o quê? O óbvio: no referendo só está em causa se os cidadãos concordam ou não com a despenalização do aborto nos termos colocados na pergunta. Nada mais. E ninguém mais poderá arrogar-se no direito de fazer interpretações dessa decisão.

Nas eleições, os partidos propõem programas e os eleitores aderem a um ou outro programa. Daí decorre que, após as eleições e em função dos resultados, podem fazer-se acordos e cedências de parte a parte.

Num referendo é diferente. Há uma pergunta com duas respostas possíveis. Os partidos e os cidadãos fazem campanha por uma ou por outra resposta. Não há terceira via possível.

Ganhar o Não e despenalizar pela porta das traseiras não é democrático. Ganhar o Sim e prevalecer a penalização não é democrático. Portanto, para despenalizar só votando Sim. Porque ao votar Não não se vota neste ou naquele movimento, nesta ou naquela posição assumida na campanha: vota-se simplesmente Não à pergunta feita. Por isso, não há interpretações canhestras que se possa fazer a posteriori. Logo, DESPENALIZAR SÓ VOTANDO SIM, o resto é folclore desesperado de quem sabe que está a um passo da derrota.

7/2/07 14:32  

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