Homosapiêncial

Nós somos o que pensamos. Muito mais do que imaginamos. Muito mais do que supomos. Mais ainda do que sentimos...

2005/12/25

Dia de Natal

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros. coitadinhos. nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra. louvado seja o Senhor!. o que nunca tinha pensado comprado.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.
Ah!!!!!!!!!!
Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.
Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.
Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

Poema de Natal - A. Gedeão

2005/12/19

Geração Rasca!?

O próximo texto está repleto de interrogações. Isto porque espelha as minhas dúvidas pessoais sobre este assunto.

Aqui à uns dias, durante uma conversa com uma amiga, fiquei a pensar numa coisa que ela disse. Certamente que os da minha geração se lembram bem dos tempos em que éramos rotulados como pertencentes e constituintes da chamada “Geração Rasca”.
Com os anos entretanto passados, penso ser já possível aquilatar da veracidade desse rótulo.

Seremos nós de facto, uma geração rasca?

Será que a nossa geração é assim tão má?

E será verdade que somos despojados de valores e ideais?

Essa minha amiga dizia que não. Dizia que apesar dos tempos conturbados que vivemos e das dificuldades, até que nos saímos mais ou menos.

Acontece que essa amiga falava disto por comparação com a actual geração. Dizia ela que os jovens de hoje em dia é que não têm o mínimo de respeito, valores, princípios morais, etc. A princípio concordei com ela. Mas depois fiquei a pensar…

Será justo que nós, hoje em dia, façamos juízos de valor sobre a nova geração?

Não estaremos nós a cometer o mesmo erro e injustiça que eventualmente cometeram connosco?

Será que é necessário deixar passar o tempo para se verificar em quê que as novas gerações se vão tornar?

Ou será que esta nova geração é mesmo muito pior que a nossa?

2005/12/18

Algumas curiosidades sobre a Ota

Já muito se disse e escreveu sobre o projecto do novo aeroporto da Ota.
No entanto tenho vindo a descobrir algumas particularidades deste projecto que são no mínimo caricatas.

Fiquei por exemplo a saber que o aeroporto vai ficar construído a cerca de dois metros acima do nível do rio Tejo e que existe a forte probabilidade de, em caso de cheia, uma área substancial do aeroporto fica inoperacional. Este facto é de tal forma verdadeiro, que no projecto está englobada a construção de uma enorme estrutura subterrânea com a finalidade de drenar a agua em excesso. Por um lado, essa estrutura não garante o total escoamento em caso de cheia e por outro lado, a construção dessa infra-estrutura encarece em muitos milhões de euros a construção do aeroporto.

Em relação ao Shuttle que vai ser construído, fiquei a saber que a linha que o vai suportar, vai dar uma grande volta, como diriam os grandes “Gato Fedorento”. Isto é, vai ser construída para Sul, dar a volta e depois virar para Norte. Numa localização a Sul de Lisboa, esta situação não se passava.

Agora vamos fazer o seguinte exercício. Façamos de conta que chegamos ao aeroporto da Ota vindos de avião de um qualquer destino e que queremos ir para o Porto. Que fazer? Certamente que uma das primeiras respostas seria, apanhar o TGV para o Porto. Errado. Li que a linha do TGV passa na Ota sim senhor mas, apenas no sentido Norte – Sul!!!
Alias, o TGV traz outra questão. Vão ser feitos dois grandes investimentos pelo Estado português que vão concorrer entre si. Com o novo aeroporto, as companhias aéreas que operam em curtas distancias vão obviamente fazer pontes aéreas com Madrid, concorrendo directamente com o TGV. Ao que apurei, a diferença de preços entre as duas opções não é muito significativa.

Junte-se a tudo isto o facto de ninguém ter apresentado com igual pompa e circunstancia, os valores da construção da rede viária que vai servir o novo aeroporto. Será que também vão ser suportados pelos privados? Não me parece.

Será assim licito duvidar do grande “negócio” que o Estado fez? Por vezes até parecia que o novo aeroporto nem ia custar nada…

Também não se falou do impacto económico e financeiro da construção do novo aeroporto, ao nível do turismo da capital.

Apesar de tudo isto, parece que a coisa vai mesmo para a frente, apesar de o novo aeroporto ir ser inclusivamente construído numa localização que não permite nenhuma expansão a nível de área, quando for necessário faze-la de futuro.

Até hoje, o único motivo que foi apresentado e que consigo entender como sendo credível para a escolha da Ota é o facto de, ao contrário de por exemplo Rio Maior, a construção do aeroporto na Ota implicar um abate de um numero menor de sobreiros. A questão é se isso por si só, será justificação suficiente para tal escolha.

2005/12/15

O fantasma de Soares.

O fantasma de Soares tem uma cara e um nome bem definidos. Cavaco Silva.
Vi ontem a primeira parte do debate entre Manuel Alegre e Mário Soares e penso que, em termos percentuais, se pode dividir da seguinte forma a prestação de Soares. 20% a desviar-se das perguntas que lhe eram feitas, 20% a “ensinar” a Alegre o que é ser o Presidente da Republica e depois 60% do tempo a falar de Cavaco, daquilo que ele fez, daquilo que ele disse, etc.

Estranho é que nenhuma das perguntas que lhe faziam era sobre Cavaco mas, o velho estratega lá tirava sempre o coelho (que não o Jorge) da cartola e metia de novo Cavaco ao barulho.
É triste e ridículo que o tenha feito e penso até que é uma falta de respeito para o adversário que estava à sua frente.
Estou farto de ouvir Soares a dizer que não quer falar mais de Cavaco e logo de seguida fazer exactamente o contrário.

Alegre demonstrou uma vez mais que não tem grande à-vontade em debates. À partida pensava que Alegre poderia ser o segundo candidato mais votado mas com as suas prestações penso que venha a perder muitos votos para Soares e até Louça.

Quanto a Soares, imagino-o a acordar a meio da noite agarrado ao pescoço da sua mulher e a gritar: “Cavaco! Cavaacooo! Eu dou cabo de ti!!!!”

2005/12/13

«Tinha isto encravado», diz agressor de Soares

O sócio n.º 311 da Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra que anteontem e ontem encheu os ecrãs das televisões e várias páginas de jornais diz que não agrediu nem quis agredir Mário Soares e assegura ao Correio da Manhã que apenas aproveitou a oportunidade que nunca tinha tido para lhe dizer o que lhe fazia «rebentar a alma».
«Isto já andava aqui encravado na garganta desde 1975, de modo que, mal o apanhei pela frente, desabafei», disse ao jornal diário Augusto Rodrigues da Silva, carpinteiro, de 63 anos de idade.
«Tranquilo» e consciente de que «disse aquilo que muitos milhares de portugueses gostavam de ter dito», Augusto Silva falou ao CM das dificuldades que passou enquanto combatente e o facto de, em 1975, ter sido «expulso» de Angola e obrigado a deixar tudo o que lhe pertencia.
«Eu lutei pelo meu País, não fui para a Bósnia ou para o Afeganistão ganhar 500 contos por mês e depois fui, como tantos outros, votado ao esquecimento por todos os governos, mas muito especialmente por esse senhor que deu o que nos pertencia como quem dá uma camisa», disse o antigo combatente.
«Eu lutei três anos, entre 1963 e 1966, no Norte de Angola e, após o cumprimento do serviço militar, arranjei um emprego e trabalhei nove anos numa empresa na mesma região. Ao fim de tudo isto, deram-me um pontapé e mandaram-me desenrascar», referiu Augusto Silva.
Stress de guerra
O ex-combatente que no domingo chamou «vigarista» a Mário Soares garante não ter medo e defende que apenas disse a verdade. Quanto às ameaças de que poderá ser alvo de um processo-crime, afirma-se «de consciência plenamente tranquila».
«Eu não agredi ninguém e apenas manifestei o meu repúdio pelo mal que esse senhor fez a mim e a muitos milhares de portugueses que estiveram na guerra e trabalharam nas ex-colónias», explicou ao Correio da Manhã.
Fonte da Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra (APVG) disse ao matutino que Augusto Rodrigues da Silva sofre de stress pós-traumático e, «como muitos outros, devia ser alvo de acompanhamento psíquico».
Em relação ao incidente de anteontem, Gabriel Rodrigues, da APVG lamentou o ocorrido, sublinhando que «é com muito custo que instauramos um inquérito, que pode levar à expulsão, a um associado activo, que raramente faltava a uma manifestação em Lisboa».

in PortugalDiário

2005/12/12

Teoria do “Desenrascanso”

Decidi começar por partilhar a minha teoria sobre o problema mais abrangente da sociedade portuguesa. Porque é que estamos/somos da maneira que estamos/somos. Isto é, porque é que Portugal chegou a este ponto e porque é que é tão difícil modificar o que está mal neste canto à beira mar plantado.

Partilho assim com quem quiser ler as próximas linhas, a Teoria do “Desenrascanso”.

Não sei explicar como tudo começou. Talvez a primeira família “homosapiêncial” que para cá veio morar (o Sr. Manuel Adão e a Dona Maria Eva) fosse constituída por pessoas que tinham uma grande capacidade de se desenrascar das situações mais difíceis.Talvez esta capacidade se tenha transmitido ao longo das muitas gerações de habitantes desta terra, até aos nossos dias.Durante muitos séculos, esta capacidade levou Portugal a ser uma das maiores potências mundiais. Vivia-se a época dos descobrimentos e o “desenrascanso” levou Portugal a “mares nunca dantes navegados”. É estranha esta imagem nos dias que correm mas, Portugal já foi uma das maiores nações do Mundo.Hoje em dia, no entanto, a realidade é bem diferente. Pensemos então em porquê que tudo isso mudou.Olhando para um passado mais recente de Portugal, importa relembrar que durante muitos anos, Portugal “viveu” debaixo de uma ditadura, com tudo o que isso traz de negativo. Foram tempos difíceis que para a minha geração podem ser apenas imaginados, sem que se consiga ter uma ideia minimamente próxima da realidade vivida nessa altura. Pessoas passavam fome, racionalizava-se géneros alimentares, etc.Foi debaixo dessas condições que mais uma vez o “desenrascanso” surgiu, como forma de tentar sobreviver da melhor forma possível em tempos tão conturbados.Não creio que se possa criticar quem nesse tempo se desenrascou. O problema é que o tal de “desenrascanso” veio para ficar. A ditadura acabou, mas o português tinha aberto a caixa de Pandóra e não estava disposto a abdicar dessa grande descoberta. E assim, continuou a recorrer ao “desenrascanso”, já não por uma questão de sobrevivência, mas porque queria sempre ter mais. Porque queria ser sempre mais esperto que o vizinho ou o próprio Estado, porque queria ser sempre cada vez mais rico à custa da exploração dos trabalhadores (até pareço comunista, valha-me Deus), ou então fugindo aos impostos, porque queria sempre tentar fugir às mais elementares regras de civismo, ou fosse lá pelo que fosse.E assim, o "desenrascanso" chegou aos nossos dias.

Proponho que façam o seguinte exercício para testarem a minha teoria.Pensem em qualquer um dos muitos problemas de Portugal. De seguida procurem descobrir se há alguém que se está a desenrascar, à custa da existência desse problema.

Acreditem, há sempre alguém.

Esta mentalidade está enraizada em todas as camadas da sociedade portuguesa e, por conseguinte, está também presente nos chamados centros de decisão. Daí ser tão complicado mudar o estado das coisas.Quem está bem, está porque não se importa de passar por cima de seja quem for ou do que for.Se começamos a falar em mudar o que está mal, então estamos a abrir a possibilidade de alterar as regras do jogo e essas pessoas passam a perder o que tanto lhes custou a conseguir (coitadinhos).Logo, e se essas pessoas estão em posições através das quais podem impedir essa alteração, acreditem que vão fazer tudo o que estiver ao seu alcance para evitar tal mudança.

Mudar esta relidade é assim um processo duro, moroso e difícil. Será possível?

O grande problema de Portugal, é a mentalidade. Enquanto essa mentalidade não mudar, dificilmente isto se recompõe.

2005/12/11

Somos o que pensamos

Nós somos o que pensamos.
Muito mais do que imaginamos.
Muito mais do que supomos.
Mais ainda do que sentimos.

Se pensarmos melhor, melhor seremos.
Isso é lei básica do pensamento.
A energia segue automaticamente o que pensamos.
Logo, melhora as energias quem pensa melhor.

Quem pensa em melhorar, melhora só de pensar.
O pensamento é o artífice do destino.
Cada pensamento é um sulco na mente,
Por onde correm as energias e os sentimentos.

Cada escolha, modos do pensamento.
Cada acto, escolha do pensamento.
Cada destino, modos de escolha.
Cada um é o que pensa!

Quem pensa, escolhe; Quem semeia, colhe.
Quem planta cerejas, colherá cerejas.
Quem semeia vento, colherá tempestade.
Quem semeia luz, já melhora, só por semear.

Cada acto é pensamento exteriorizado.
Cada palavra é a sonorização do pensamento.
Cada gesto é movimento do pensamento.
Cada energia manifestada, modos do pensamento.

Pensamos, logo existimos.
Ou, melhor, existimos porque pensamos.
Ou, seria mais acertado dizer?
"Pensamos, logo complicamos!"

O pensamento vai e vem pelos sulcos...
Sua natureza é o movimento.
E esse é o seu tormento: a agitação.
O remédio: a meditação.